O vodu haitiano, de raízes na África, é largamente aplicado na nação caribenha, cuja miséria consistente a coloca com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Américas. Militares brasileiros que fazem parte da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti) recordam terem recolhido nas ruas, no início da missão, corpos com tórax retalhado e olhos arrancados. Acreditam terem encontrado vítimas de sacerdotes voduístas bokors, que realizam magia negra.
Os mesmos militares relembram ainda terem colhido o depoimento de um padre italiano que foi sequestrado com uma noviça por supostos praticantes do vodu. A religiosa foi estuprada recorrentemente, inclusive com espetos e paus, em um suposto ritual religioso. As vítimas conseguiram fugir quando novos bandidos brigavam com os primeiros sequestradores pela posse dos reféns.
Para além dos rituais de morte e purificação, a mística voduísta tem também na transformação de seres humanos em "zumbis" um dos maiores temores para a sociedade leiga. Os haitianos acreditam que um zumbi é criado a partir da feitiçaria do sacerdote, que tomaria para si o "bon ange", ou a alma da pessoa. Para os estudiosos de práticas voduístas, no entanto, o estado de letargia dos supostos zumbis pode ser resultado da aplicação de tetrodotoxina, uma neurotoxina encontrada em espécies do peixe baiacu.
O artigo 246 do Código Penal haitiano chega a fazer referência ao envenenamento que tenha por objetivo produzir um "estado letárgico" na pessoa, principal característica dos ditos zumbis haitianos. "É classificado como envevenamento todo atentado à vida de uma pessoa por efeito de substâncias que podem levar à morte mais cedo ou mais tarde, de qualquer forma que essas substâncias tenham sido aplicadas ou administradas e quaisquer que sejam suas consequências.
Também será qualificado como atentado à vida de uma pessoa, por enevenamento, o emprego feito contra ela de substâncias que, sem levar à morte, irão produzir um estado letárgico mais ou menos prolongado, não importando a forma como essas substâncias tenham sido empregadas e quais sejam as consequências na vítima", diz a legislação do Haiti.
Se a maior parte da população haitiana praticava o vodu aliada a outras religiões, como o catolicismo, a situação pós-terremoto de 2010, quando pelo menos 220 mil pessoas perderam a vida, e o agravamento do surto de cólera no final do ano passado provocaram em parte de Porto Príncipe reações violentas contra sacerdotes do vodu.
Em casas cujos telhados estapam uma espécie de espantalho com farrapos vermelhos, pelo menos 40 sacerdotes foram assassinados, relata o embaixador do Brasil do Haiti, Igor Kipman. Parte da população atribuía a eles responsabilidade pela morte de mais de 3,3 mil pessoas vítimas do cólera.
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