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Por quê gostamos de zumbis?


Aline está fazendo compras no centro da cidade. Ela deve se apressar, pois ainda tem uma lista de tarefas para fazer durante o dia. De repente as pessoas ao seu redor começam a se comportar de forma estranha, parecendo doentes. Ela sente que tem que sair dali. Sim, ela está sendo perseguida por zumbis. E tem que correr o mais rápido possível. Mas por algum motivo ela não consegue, e os zumbis se aproximam. Parece que Aline está encrencada. Então o despertador toca – foi tudo um sonho.
           Cenas como essa se repetem cada vez mais na cabeça das pessoas. Os zumbis estão cada vez mais presentes na vida delas. Seja nos livros, filmes, e até mesmo no modo de se expressar.
O fato é que com a correria do dia-a-dia as pessoas estão percebendo que tem muito mais características em comum com os zumbis do que pensavam. Você mesmo já disse para si mesmo depois de uma noite mal-dormida “Hoje estou parecendo um zumbi”. E essa identificação faz com que uma pessoa que não conhecia o “universo zumbi” tenha amor à primeira vista por essas criaturas. Mas, ao contrário das modinhas vampirescas (veja o post http://diazdezumbi.blogspot.com/2011/02/zumbis-versus-vampiros.html), esse amor normalmente é para a vida inteira (e depois também), não uma “paixão de carnaval”.

A modernidade tem feito mais e mais zumbis. A tendência global de controle da mídia, através principalmente das emissoras de TV, ditando como você VAI VIVER (sim, desculpe, você não tem mais controle), tem feito as pessoas a viverem no modo automático, sem que haja qualquer utilidade para seu córtex pré-frontal (área do cérebro responsável pelo raciocínio e por você ser você mesmo). A única coisa que você tem que fazer é ir trabalhar, comer, se reproduzir, e principalmente, gastar dinheiro. Chega num ponto em que você nem sabe mais quem você é: você só sabe que tem que executar certas ações. Isso te lembra uma certa criatura?

Com a Internet e as redes sociais, a questão do isolamento social no mundo real (e, paralelamente a sociabilização no mundo virtual) tem, de forma implícita, criado uma discrepância e uma oscilação entre você estar sozinho e estar em um meio social. O quê isso tem a ver com os zumbis? Veja porque muitos fãs de zumbis se sentem nos dois lados da moeda:

O fã de zumbi sente que tem que buscar armas, mantimentos e lugares seguros para sobreviver aos zumbis, sendo pró-ativos. Em outras palavras SE VIRAR. Numa época em que os filhos estão cada vez mais dependentes dos pais, em nome de uma suposta necessidade de se fazer uma faculdade, ou falta de emprego, ou qualquer outra desculpa explicação, a simulação de que você é um herói (líder, principal, o fodão) que luta contra zumbis pode, de certa forma, amenizar o mal-estar gerado por não ser o “homem da casa”. E a exigência da proatividade e do “do it now” difundida pelas empresas contriui para que isso aconteça.

Por outro lado, é cada vez maior o número de pessoas isoladas socialmente, e que se acham “esquisitas demais” para terem muitos amigos. Então os zumbis podem ajudá-los, e muito, a sentirem que fazem parte de um meio. Pois os zumbis em geral são muito parecidos um com o outro, e se aceitam muito bem no meio social deles. E pode ser justamente isso que falta para alguns fã de zumbis: sentirem que há pessoas parecidas com eles, para poder sociabilizá-los. Tanto é que é cada vez maior o número de lugares onde acontece a famosa “Zombie Walk”, em que pessoas fantasiadas de zumbis caminham pelas ruas. Finalmente essas pessoas deixaram de ser “esquisitas”.

Mas pode ser que você não se encaixe em nenhuma das situações citadas, e seja somente mais um fã de zumbi. O fato é que zumbis são muito legais mesmo! Algumas pessoas sentem medo, outras vêem por causa dos efeitos especiais, por causa das escatologias, ou para testar suas reações e (sim!) transmitir os conhecimentos necessários diante de um apocalipse zumbi. E, mesmo para quem é um ignorante total no assunto, ver filmes de zumbis é sempre uma terapia para se livrar do estresse do dia-a-dia.

Então, agora que você sabe porquê gosta de zumbis, acho que o controle do Resident Evil está te esperando...


Wesley Borges

Livro: Mortos-vivos analisados

"(BR Press) - Os mortos-vivos do cinema ganham uma análise em Zumbi: O Livro dos Mortos (LeYa Cult e Barba Negra, 464 págs., R$ 44,90), do jornalista Jamie Russel. Fartamente ilustrado, o trabalho traz uma intensa uisa sobre origens e representações desse personagem do terror.

Reflexos sociais    Russel, especialista em cinema, parte da constatação que na bibliografia sobre o gênero terror, os zumbis ganham pouca atenção, bem diferente de lobisomens, vampiros e serial killers, exaustivamente analisados. "Zumbis são a massa plebeia do cinema de terror, criaturas sem alma que perambulam sem personalidade nem propósito", afirma o autor.
         O trabalho analisa a presença e os significados desse personagem marginal, moderno e ocidental, que personifica o medo da morte, mas que também expressa outros temores e conflitos.
    "Nascido em meio a uma grande variedade de tensões culturais - do imperialismo norte-americano aos conflitos raciais no país, dos temores de desemprego na Depressão à paranoia de lavagens cerebrais da Guerra Fria, do ataque aos direitos civis e políticos pós-1960 ao terror corpóreo da era da Aids - o zumbi tornou-se, como veremos, um potente símbolo do apocalipse. É um monstro cuja aparição sempre ameaça desafiar a fé da humanidade num universo ordenado", diz um trecho no livro.

Vírus zumbi: é possível?

"Um vírus híbrido poderia causar uma epidemia de zumbis?

Documentário examina as possibilidades que misturas genéticas entre doenças conhecidas causem doenças dignas de filmes de terror

       Cena do filme "Madrugada dos Mortos", de 2004: ressuscitar não é possível, mas alguns dos comportamentos associados a zumbis, sim

Nos filmes de zumbi, uma epidemia viral incontrolável devasta a humanidade, transformando as pessoas em monstros sem consciência e com tendências canibais. Mas se os mortos não podem voltar à vida, alguns vírus podem induzir comportamentos agressivos parecidos com os dos zumbis, segundo cientistas ouvidos pelo documentário “A Verdade por trás dos Zumbis”, da National Geographic.

Por exemplo, raiva – uma doença viral que infecta o sistema nervoso central – pode fazer com que os doentes tenham acessos violentos de loucura, de acordo com Samita Andreansky, virologista da Universidade de Miami. Combine isso com a habilidade de se espalhar pelo ar, como o vírus da gripe, e pode-se obter o início de um apocalipse zumbi.

Zumbis versus Vampiros

   

"charlie Adlard não acredita que seus zumbis irão substituir os vampiros



Más notícias a quem espera uma onda de filmes com mortos-vivos, a exemplo da recente febre vampiresca pós-Crepúsculo. Zumbi não é o novo vampiro. Essa é, ao menos, a opinião do britânico Charlie Adlard, 44, desenhista dos gibis de Walking Dead – que virou série de TV em 2010, após o sucesso no mercado editorial, com mais de 2 milhões de cópias vendidas.



Os mortos-vivos não devem ganhar os corações dos adolescentes românticos por diversos motivos, segundo Adlard. O primeiro é que, já que eles estão em decomposição, eles não podem ser fofos como o vampiro Edward da saga Crepúsculo. Há motivos no âmbito das possibilidades narrativas, também.


– Zumbis são uma ótima oportunidade para desenvolver os personagens ao redor deles. O interessante é pensar em como os protagonistas reagem diante desses monstros. É preciso que sempre haja muitos zumbis, eles funcionam em massa. Ees são bastante desinteressantes – diz Adlard, em entrevista concedida durante o festival de quadrinhos realizado em Angoulême (França), na última semana.



Apesar de estar no mercado mainstream de HQs há décadas, tendo ilustrado clássicos como Arquivo X, Adlard se especializou em mortos-vivos devido ao sucesso de Walking Dead.



– Estou ciente dessa fama, é por isso que sempre tento fazer coisas diferentes. Se bem que, no ano passado, não tive tempo de desenhar mais nada – conta.



A hora de se preocupar, afirma o autor, “é quando as pessoas começarem a me chamar de ‘o cara dos zumbis’ ‘’. Talvez Adlard não saiba, mas era assim que os fãs o chamavam, enquanto esperavam o início da mesa-redonda de que ele participou com os americanos Tim Fish (Cavalcade of Boys) e Abby Denson (Dolltopia). O debate foi sobre quadrinhos de massa versus publicações independentes.



Os gibis de Walking Dead, parcialmente lançados no Brasil pela HQM, vêm sendo reeditados no mundo após a estreia da série de TV.



– A TV é o melhor trailer possível para quadrinhos – brinca o autor, que já é reconhecido antes pelos zumbis das telas do que pelos das páginas das HQs.



Adlard vem frequentemente ao festival de Angoulême, que celebra o mercado franco-belga de quadrinhos. Antes de ser famoso, ele trazia seus desenhos para mostrar a editores e tentar emplacar uma publicação.



– Com isso, percebi que preferia desenhar no estilo europeu, mais voltado a adultos – afirma.



Os desenhos de Adlard chamam a atenção pelo uso de branco e preto, opção geralmente feita por economia.



– Acho que sou o único autor que ganha seu pão trabalhando sem cores. Mas acho um jeito adorável de trabalhar – afirma ele." (DIOGO BERCITO | ANGOULÊME (FRANÇA)/ FOLHAPRESS, disponível em http://www.clicrbs.com.br)


Permita-me, caro leitor do Dia Z de Zumbi, discordar das afirmações do Charlie Adlard. O zumbis podem até não estourar nas telas de cinema, atraindo multidões de emos e menininhas (redundância detected), mas cá entre nós: você, fã de zumbis, quer mesmo que isso aconteça? Eu não. Vai demorar gerações para que os vampiros recuperem sua fama original, e não quero que aconteça com os zumbis o mesmo que aconteceu com os vampiros.
     Fãs de zumbis são mais discretos, não gostam de estardalhaço. Mesmo as gritarias são sintonizadas com o contexto zumbi, e não lembram em nada os orgasmos coletivos do fãs de Crepúsculo quando o cara do filme tira a camiseta.
    Fãs de zumbis são realmente fãs de zumbis, e não fãs do ator que está representando o zumbi. Por isso os fãs de zumbis são verdadeiros, conhecem a “filosofia” zumbi, enquanto que fãs de Crepúsculo só estão se ocupando enquanto não aparece um bofe melhor por perto...
    Mas devemos respeitar as diferenças: por isso, não é de se discutir se zumbis vão substituir os vampiros ou não. Eles vão conviver por bastante tempo, mas cada um no seu canto.

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